domingo, 27 de maio de 2007

Cru: -eldade, -eza, -cial, entre outros.

Mais uma vez uma pitada de ódio, ironia ácida.
E essa escuridão lancinante, que foge incessantemente do sol e das janelas da alma.
Inerente e inexorável, todavia. Cheia de taras, braços, cabeças, bela besta.

Ódio cru
Lua infame cresceu na rua
Virou mendiga, catando lixo
Gosto dos trapos dela,
da sujeira com que se orna.

Enquanto ela furta na noite,
lambo suas feridas
É nela que me vejo espelhado,
meus instintos de gato.

Entretanto, arranjei um amigo
e venho me cansando de seus farrapos,
sua boemia noturna.

Na serenata de horrores, cantamos:
Navega lua, navega
estamos fartos de teu brilho desistente.
Meus olhos de lince precisam da tua luz?
Navega lua, navega.

E não volta mais.

- By me®

terça-feira, 22 de maio de 2007

O escuro.

Como uma forma de quebrar a linha altamente intimista à qual venho seguindo desde quando comecei a apresentar os poemas de Plurilógico, decidi trazer à tona uma poesia do Buraco da Fechadura (mais uma divisão de Plurilógico).
A idéia com a qual trabalhei no Buraco da Fechadura foi o instinto, os elementos que fazem parte de nossa vida, mas que preferimos não mostrar e que ninguém quer ver ou saber a respeito. É onde maquiamos o rosto cru e só então saímos para a rua.
Os demônios íntimos encontram seu lugar atrás do Buraco da Fechadura. A raiva, o ódio, as tonalidades fortes. Necessitamos dar essa grande descarga, não apenas pelos outros, mas por nós mesmos. Precisamos de um lugar para ser quem somos sem se preocupar com ninguém e deixar tudo isso apenas ali, sem trazer para os outros, para o mundo.
A poesia que trago hoje fala de raiva.
Senti tanta raiva quando fiz esse poema, que ele foi uma forma de escoar esse sentimento e digeri-lo, sem grandes agressões ao meu mundo íntimo ou à minha relação com essas duas pessoas. Simplesmente não achei justo o casulo que estava sendo criado, era muito cruel, muito egoísta. Muito sem-vida.

Monopólio de corações
Enquanto ele rouba o compromisso
Ela fica feliz e sorri e rodopia

Enquanto ele enfeita as manchas
Ela saltita no ar, formando triângulos de fogo

É perigoso, dramático, cheio de dor
Mas essa foi a forma que eles encontraram
de ornar a rosa com espinhos.

E sangra em demasiada agonia:
eles formam um circo serelepe
de eternos horrores

A raiva cresce, o egoísmo adia
mas eles estão de pernas pro ar:
E aí, e daí?
Há vida, não há?

É isso que importa.

- By me®

Incansavelmente, incessantemente, implacavelmente agradecendo a todos que continuam comentando aqui. Obrigado!

sábado, 12 de maio de 2007

Êxtase, alegria e tudo girando.


Chão de estrelas
A moça rodopia entre pirilampos
Doirada e vivaz, em dose tão cavalar
Gosto de vê-la dançar, doce sinergia
Felicidade, nostalgia, mar

É você tão bela no meu espelho
e a vida ao redor de tudo:
vida ao nosso redor

Imperativa e maior.

- By me®

Na postagem passada, em minha ânsia de libertar, esqueci de dizer que a poesia "Pombas na praça" faz parte do Caramanchão (uma das divisões de Plurilógico). No Caramanchão, a mente senta, bebe chá, se deixa envolver pela natureza ao redor e floreia, (re)pensando a vida, suscitando questionamentos e reformulando.
Essa poesia que estou apresentando hoje a vocês vem da Bolha Íntima, assim como os primeiros poemas de Plurilógico que apresentei aqui. Acredito que ela fale por si mesma e dispense comentários.
Continuo agradecendo todas as pessoas que comentam aqui. Obrigado!

domingo, 6 de maio de 2007

Liberdade, liberdade, liberdade. E asas.

Até agora, minhas postagens começaram com textos e finalmente a poesia. Hoje me deu vontade de inverter isso, talvez pra permitir que as pessoas que me lerem possam tirar suas próprias conclusões. Uma forma de não me sobrepor aos pensamentos dos outros, não induzir ninguém a pensar o que quero que pensem. Talvez hoje eu tenha resolvido não manipular, como uma forma de libertar.

Pombas na praça
Andorinhas irrequietas
quereis ser como vós
tão livres e doiradas
Ainda tão arcaicas e modernas!

Andorinhas irrequietas
Espalhai vosso canto pelos jardins:
as moças casadoiras batem palma
para a célebre revoada agitadiça.

- By me®

No fundo, no fundo, acredito que todos nós tenhamos esse desejo silencioso e profundo de ser pássaro. Sonhamos todos os dias com a liberdade: ser livre de nós mesmos, ser livre do mundo, ser livre das obrigações, ser livre das situações desconfortáveis. Desejamos a fluidez das coisas e da vida, um percurso liso, sem vírgulas.
Ora, não houvesse conflitos e não seria vida. Não houvesse desafios e cairíamos num marasmo prolongado.
Devemos objetivar a liberdade, mas conscientes de que sem pedras, não há castelos.
Hoje escrevo pouco, talvez ainda na tentativa de libertar mentes e de não impor o que penso demasiadamente.
Deixar uma pincelada do meu imo, mas sem descolorir imos alheios.
Viva a múltipla interpretação da poesia!

Obrigado a todos que continuam visitando o blog e deixando seus comentários que acendem a alma.