segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Esforço

Quando nesta época as coisas forem todas escuras
necessita-se de mãos de pura coragem
necessita-se de mãos imundas, imundas de vida
necessita-se varrer os escombros mais duros, as crostas mais antigas
necessita-se a sede - ah, como é necessária a sede fremente de verdade.
E só então tudo ressurge em completa luz.

Mas para tal, precisa-se de um quarto olho que nos dê mais do que nossa intuição mesquinha.

Um quarto olho, um olho que sonde e aceite a verdade impura de nossa alma.
Um quarto olho, um olho que entre no meio do redemoinho das coisas e, palpitante, revele e destaque a hora da pausa.
Um quarto olho, um olho que enxergue além da essência, porque, às vezes, o fundo da essência é duro.
E só então, exposta a verdade, a vida assuma-se sem pretextos.

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Minha resposta (sem que ninguém tenha perguntado)

Metapoética
Quero escrever como escrevo,
despretensiosamente.
Na diferença,
reside minha liberdade.
Se o padrão me execra,
alguém no mundo se encanta
com minhas palavras.
No máximo, organizo-me
para meu maior prazer.

- Tinha que postar essa primeira por desencargo de consciência.

sábado, 3 de novembro de 2007

Por trás do espelho. (ou a verdade do amor)

Sutilíssimo
Deixe-me arrepiar tua nuca
com dedos de mestre
que tenho guardados
para singela ternura. Posso?

Suspiro uma tez volátil.
Algo de seu resvala no íntimo,
preciso vomitá-lo, revelá-lo, tocá-lo.
Gravar na tua superfície
marcas de minha paixão. Posso?

O que desejo é uma montanha,
um vulcão adormecido:
sustento o sonho furtivo
de uma prepotência minha
exclusivamente para você. Posso?

Esconde coisa que me pertence,
mas não há para onde correr.
O abstrato e a essência,
desde que predominam,
são deliberadamente meus. Posso?


Por Dona Lânguida, em seu mundo de amor.